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Os Anais Pernambucanos
Artigo do historiador Jordão Emerenciano, então
diretor do Arquivo Público de Pernambuco, publicado em
16 de dezembro de 1951, no
Diário de Pernambuco.
Os Anais pernambucanos compreendem o período de
1493 a
1850.
São 357 anos de história narrada dia após
dia. Nos Anais estão não só os nomes de grandes
heróis como de obscuros e silenciosos homens que fizeram
alguma cousa pela sua terra. Está registrado desde o fato
histórico importante e bem composto até o incidente
jacoso, mas colorido e humano. E não só a história
oficial, grave e solene, como a história social da vida
pernambucana nos seus múltiplos aspectos econômicos,
políticos e religiosos. As informações sobre
o açúcar, o café, o algodão ocupam
nos Anais a posição de verdadeiras monografias.
É o melhor repositório de dados sobre nossa província.
Numa palavra: é o retrato vivo e humano de Pernambuco em
corpo inteiro. Os Anais são na verdade uma enciclopédia
pernambucana.
O mais impressionante é que uma obra desse porte e desse
volume - a edição do Aquivo Público irá
a mais de dez tomos de 600 páginas - foi realizada por
um só homem, desajustado e pobre. Um homem que não
dispunha nem dos recursos nem dos processos da moderna pesquisa
histórica. Força é reconhecer que semelhante
empresa deve ter tido os seus momentos de desespero, melancolia
e desânimo. Nada, porém, abateu aquele velhinho mirrado
e gasto pelo trabalho. Nada abateu a coragem daquele homem modesto,
mas profundamente dedicado ao estudo do passado pernambucano.
Sua dedicação, sua coragem, seu nobre e silencioso
heroísmo resultaram nessa obra que é o maior monumento
histórico e literário, construído dia a dia,
para exaltar o esforço povoador, o trabalho e a energia,
o heroísmo, o espírito e a tradição
de Pernambuco.
Pereira da Costa conseguiu essse admirável milagre de realizar,
sozinho e pobre, uma obra que pelo vulto, pela importância
e pela extensão transcedente do esforço de um indivíduo
para assemelhar-se ao de toda uma corporação. Esse
milagre ele conseguiu pelas suas qualidades pessoais de tenacidade,
resistência, dedicação, capacidade de trabalho
e, sobretudo, pelo muito amor que votava a Pernambuco. Sua obra
é o milagre do amor. De amor à sua terra e à
sua gente.
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